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O que uma criança pode ensinar a um profissional de Remuneração

Pode até soar clichê, mas o óbvio também precisa ser dito: as crianças trazem lições de vida diariamente à vida adulta — seja em aproveitar o momento presente, seja por admirar a simplicidade, seja na inocência e no questionar. No entanto, não é sobre isso que vamos falar neste artigo.

A ideia é mostrar que você, profissional de Remuneração, pode estar procurando no lugar errado o método ideal para montar seu programa de variáveis ou os tipos de benefícios que sua empresa vai oferecer.

E, acredite, uma criança pode levar ao caminho certo.

Quem tem filho, sobrinha, enteado, prima, afilhado sabe que o embrulho colorido de um presente faz, muitas vezes, mais sucesso que o seu próprio conteúdo. Que um brinquedo caríssimo é facilmente substituído por uma pilha de panelas. Que um lanche no McDonald’s é muito mais atraente que uma refeição estrelada no Michelin. Que um piquenique no parque conta muito mais pontos que uma roupa de grife.

O que uma criança ensina a você, profissional de Remuneração, tem a ver com percepção de valor. Tem a ver com o fato de que nem sempre adianta olhar para o mercado a fim de se espelhar: a melhor leitura da percepção de valor é feita da porta pra dentro. Só assim é possível criar uma boa estratégia de compensação.

Se não houver uma perspectiva de impacto real para os colaboradores da sua empresa, a chance de direcionar recursos e tempo para o lugar errado é altíssima. E, nesse sentido, a comunicação tem papel fundamental.

O papel da comunicação na área de Remuneração

Você já deve ter ouvido por aí que o grande objetivo da comunicação, no que envolve a Remuneração, é criar um ambiente em que todos confiem no sistema e entendam que estão sendo tratados de forma justa. Mas, será que vale dizer que uma comunicação é assertiva quando o colaborador diz:

– “Legal, eu confio na empresa, sei que está pagando corretamente, mas não entendi muito bem de onde vem esse valor.”

O “remunerês” precisa sair de cena para ceder espaço a uma comunicação mais simples, fluida e sem ruídos, por dois motivos essenciais.

  • Porque a comunicação contribui para que as relações sejam mais humanizadas e traduzidas em práticas de remuneração mais eficientes.
  • Porque é crítico que os colaboradores compreendam como os programas de remuneração funcionam e como suas contribuições são recompensadas.

A Remuneração tem que cuidar para não entregar algo que somente a Remuneração entenda. É preciso olhar a experiência do colaborador e perceber valor para além do monetário.

Você já perguntou para um colaborador do que ele mais gosta na empresa? Dificilmente vai ouvir como resposta “cesta básica” — o que vem geralmente é clima, gestão, oportunidade. Elementos não mensuráveis que fazem a diferença na vida dele.

Se você perguntar para uma criança o que ela mais gosta em você, dificilmente vai ter como resposta algo relacionado ao material. A chave está sempre na percepção.

E, por falar em crianças — e mães…

Em um universo de 67 milhões de mães no Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular, apenas 46% delas trabalhavam em 2015.

Outro estudo um pouco mais recente, da FGVE/EPGF (Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas), mostra que 48% das mulheres que tiram licença-maternidade não estão mais empregadas depois de um ano.

Os dados nos mostram que, embora as mulheres representem 54,5% da população economicamente ativa no País, as mães ainda sofrem constrangimentos no ambiente de trabalho e nos processos seletivos.

Ainda é comum recrutadores perguntarem às mulheres se há pretensões de engravidar — à revelia da legislação brasileira. Às mães de filhos pequenos, a lista de questionamentos pode ser bem extensa: “com quem seu filho fica?”, “há rede de apoio por perto?”, “se a criança ficar doente, qual seria sua atitude?”, “quais são os horários de levar e buscar na escola?”

Alguns deles foram ouvidos por Luciana Louzada, a nossa convidada do 75º Quinto Dia Útil — o podcast da Carreira Muller — quando buscava uma recolocação profissional. Quando atuou “no outro lado do balcão”, como consultora de Remuneração, muitos de seus clientes exigiam perfis específicos para determinado cargo e uma condição: não ter filho pequeno.

“É preciso quebrar esse pré-conceito ou ideia equivocada de que a profissional com filho pequeno se ausenta ou se dedica menos. O olhar tem que ser para as competências que vão agregar àquela organização, e não para o seu maternar”, diz Luciana, que hoje está na área de Remuneração da Leroy Merlin, já passou por consultorias e esteve por 16 anos no grupo Via Varejo.

Se o olhar for para a maternidade, que seja para as novas habilidades desenvolvidas: tolerância, empatia, senso-crítico, definição de prioridade. E para tudo aquilo que uma criança ensina mais rápido que o ambiente corporativo.

O profissional de remuneração, hoje, tem que ser técnico, navegar em todas as frentes do negócio, entender de balanço, olhar os aspectos financeiros, ir até o chão da loja ou da fábrica. Tem que olhar da porta pra dentro e humanizar mais suas conexões sempre à luz da simplicidade.

Tem que fazer análise de percepção de valor com empatia para traduzir isso na melhor compensação possível ao colaborador — o que, para as mães, muito provavelmente está atrelada a duas palavras de ordem:

  • Liberdade (para ser mãe).
  • Segurança (para ser mãe).

Livres e seguras, as mulheres entregam com mais qualidade, são mais produtivas, adquirem habilidades com mais facilidade e têm emocional para criar filhos que, certamente, ainda terão muito a nos ensinar.

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