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Não é bom ser todo mundo na vida (e nem em remuneração)

“Você não é todo mundo” – quem nunca ouviu isso?

Posso voltar no tempo e lembrar dos vários episódios em que fui alertado por meus pais com essa frase. Você aí, que está comigo nesse artigo, também já deve ter passado por situação idêntica. Tenho absoluta certeza de que não sou unanimidade nisso. Hoje, eu me lembro com prazer  mas fato é que, quando criança, de prazer não havia nada – que bom que aprendemos a a amadurecer nosso paladar na vida.

Chego à conclusão de que quem diz essa frase sabe das coisas. Não de todas as coisas, mas de algumas fundamentais.

Pessoas que trabalham em solucionar problemas complexos precisam viver essa afirmação sempre.

Veja a metodologia Design Thinking, por exemplo. A força motora do método consiste em não buscar referências na mediana da pesquisa, mas nos extremos pouco populados por dados que, geralmente, precisam ser eliminados para não prejudicar a análise da amostra como um todo (o tal do desvio padrão). Insumo que é lixo para uma grande maioria de análises, é combustível para passos disruptivos. Doido isso.

Pouca gente tem coragem de abandonar a mediana e se arriscar nas extremidades, segundo estudos. Talvez, porque há vantagens em ser “todo mundo”. De certa forma, o padrão desse “todo” é uma garantia. Você se protege nisso, ganha pouca exposição, tem processos e comportamentos determinados pela maior amostra, se arrisca menos e por aí vai. Daniel Kahneman explicará isso infinitamente melhor que eu, em Rápido e Devagar. Recomendo a leitura.

O artigo de hoje, faz parte de meu discurso diário, em vários encontros que tenho ao longo do dia com pessoas de diversas empresas. Trabalho numa consultoria que faz pesquisas de remuneração, interagindo com profissionais de compensação o tempo todo e, se tem um público que lida, diariamente, com essas distribuições de frequências, é esse, com o qual tenho a honra de passar horas do meu dia. Passamos muito tempo juntos, mas não concordamos em tudo. Lógico. Quer um exemplo?

Desenhar uma estratégia de remuneração com base, tão somente, na mediana do mercado. É loucura.

Devemos saber o que todo mundo faz, mas não devemos fazer o que todos fazem. Estre essas duas ações, há um universo de distância.

Estou também em muitos grupos de RH no WhatsApp e a pergunta que mais vejo vai nessa linha: “colegas, o que vossas empresas têm feito em relação à determinado assunto, determinada decisão?”

Diante das respostas coletadas, eu prevejo dois cenários:

  1. Pessoas colhendo casos para determinar o que elas farão dentro da mediana, na própria empresa, confortando suas decisões com o pensamento de que é preciso fazer o que todo mundo faz, afinal, “se todos fazem, não deve estar errado”.
  2. Pessoas colhendo casos para estudarem e tomarem decisões sob muitos outros critérios, tendo o benchmark apenas como umas das fontes. Esses vão na contramão.

Eu deixarei para o Paul Rulken essa tarefa de arriscar o percentual de pessoas em cada cenário. Ele me ajudou nessa resposta numa palestra que fez, num evento do TEDx, com o título “Why The Majority Is Always Wrong” (Por que a maioria está sempre errada?).

Segundo os dados apresentados, em se tratando da busca por alta performance e soluções de problemas complexos, apenas 3% das pessoas conseguem fazer algo diferente de toda a população à sua volta. Entendeu o percentual de pessoas no cenário 2?

Importante ressaltar: esse percentual representa qualquer profissional, em qualquer área de negócio. Ele não reflete o profissional de remuneração, tão somente. Ele serve para todos: os publicitários, os médicos, os advogados, os professores, os dentistas, os motoristas… Em qualquer área da vida, de qualquer pessoa.

Saltar no desconhecido, escolher as extremidades, exige sabedoria, coragem e um propósito muito claro. Encontre alguém assim e repare bem nos olhos dela; terá um brilho diferente.

O Elon Musk, como orador na formatura de uma turma de graduandos, disse algo bem interessante também:

“Não siga a mediana. É bom pensar segundo os primeiros princípios da Física […] em vez de raciocinar por analogia. Analise as coisas pelas verdades mais fundamentais que possa imaginar e, então, reflita a partir delas. Essa é uma boa maneira de descobrir se algo realmente faz sentido ou se é apenas o que todo mundo está fazendo. Se você estiver tentando algo novo é a melhor maneira de pensar”.

Meu propósito de vida não vai na linha do senhor Musk, mas, nisso aqui, eu concordo com ele. O Steve Jobs era outro que também se enveredava pelos extremos da amostra. Madre Tereza de Calcutá, nem se fala…

Não acho que você esteja pensando em me dizer: “Emerson, mas na prática, não dá para ser assim. Eu não sou a Luiza Helena Trajano, o Elon Musk, a Hebe Camargo, o Steve Jobs, a Madre Tereza, o Bill Gates, a Janete Vaz, o Tiago Leifert, a Cristina Junqueira etc.”. Digo que não acho, porque é isso mesmo! Você está no caminho certo, que bom que não é todo esse povo aqui!

Não copie ninguém, simplesmente, por copiar. Não pegue a mediana do mercado só para se proteger. Foque nas verdades fundamentais e escreva uma história nos teus moldes.

As pessoas, acima, estabeleceram seus propósitos e partiram para cima deles. Elas se tornaram populares por fatores diversos, mas não é por serem populares que são fora da curva. O que mais temos, sendo sinceros, são populares imbecis hoje em dia, fazendo mais do mesmo. Conheço muita gente anônima, por outro lado, fora da curva, que transforma e chega somando onde quer que pise, que faz a diferença.

Reconheço que a escolha do “não ser todo mundo” exigirá muito de você. Não é a opção mais confortável para seu cérebro (como na alegoria de Kahneman, você terá de colocar seu sistema 2 para trabalhar e isso é desconfortável), mas é a melhor escolha que você fará. Teu propósito confirmará isso. Ele será um dos principais juízes.

Falo disso, todos os dias, com meus pares de remuneração, com meu filho, com minha esposa… Luto para viver esse discurso em cada área da minha vida. Tenho dois incentivadores nessa matéria. Dona Noga e senhor Osorio, meus pais. Esses dois velhinhos, queridos, falam com propriedade para eu não ser “todo mundo” em aspectos fundamentais da vida até hoje. Vivem suas vidas, diariamente, mostrando a mim, a minha irmã, aos netos, aos vizinhos, aos familiares, que “se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, (então) não está pronto para viver”, e que se eu entendesse o que o Martin Luther King Jr. sangrava nessa frase, e vivesse por um propósito também, disposto a todas as consequências, estaria liberto da mediocridade (e seria prazeroso escolher a contramão do todo, porque meus princípios é que me guiariam, e não as tendências externas). Eu os amo demais e agradeço imensamente por me deixarem essa herança, que jamais poderá ser comida pela traça ou esquecida como o dinheiro.

Você também já recebeu essa herança de alguém? Se sim, essa homenagem também é sua!

Obrigado, meu Deus, por me colocar nessa vida em condições (pais) infinitamente privilegiadas!

Emerson Costa
Gerente de Negócios

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