Você já se imaginou estocando a maior quantidade possível de comida, utensílios e diversos outros produtos por receio do valor dessas mercadorias subir em um curto intervalo de tempo?
Hoje esse cenário talvez não faça (ainda) muito sentido. Mas, em um passado não tão distante, a população sofreu com preços que subiam em intervalores cada vez menores de tempo, com o poder de compra que diminuía em ritmo bastante acelerado.
Se você não vivenciou isso, certamente já ouviu falar de pessoas que faziam compras exatamente no mesmo dia que o salário caia na conta. Isso porque os preços eram remarcados diariamente e, no dia seguinte, o poder de compra já poderia ser menor. O som da maquininha era recorrente nos supermercados: cada “tic tic” sinalizava para um novo valor nos produtos.
Nesse período, não havia outro jeito a não ser se adaptar. Foi quando os imóveis passaram a contar com um espaço reservado para estocar produtos perecíveis e não perecíveis do supermercado. A famosa despensa da cozinha.
Tudo porque fomos assolados por uma inflação que impactava a vida de todos a cada dia. Esse é o assunto do artigo de hoje, o primeiro de uma série que irá abordar os principais índices de inflação, as formas de se proteger, as consequências e como usar os índices para os diferentes perfis de público dentro das empresas. Acompanhe!
O que é e quais são as causas da inflação
De maneira resumida, inflação é o aumento contínuo e generalizado de preços em uma economia — exatamente o que aconteceu no Brasil, de modo acentuado, entre o fim da década de 80 e início da década de 90.
Sua origem tem diferentes causas. Vamos listar as 3 mais comuns, que representam os tipos de inflação.
1ª) Demanda e oferta
É a mais tradicional, ocasionada pelo descasamento entre demanda e oferta. Ou seja, quando o aumento desproporcional na quantidade desejada (demanda) de um produto resulta no aumento do preço pelo fato da oferta não acompanhar o crescimento dessa demanda.
Vale ressaltar que esse aumento na demanda pode decorrer por diversos fatores: aumento nos salários, crédito mais acessível à população, impressão de moeda pelo governo de forma descontrolada, entre outros.
2ª) Aumento nos custos de produção
Quando os preços das matérias-primas crescem, esses reajustes impactam diretamente nos custos da operação de quase todas as empresas. Consequentemente, há o repasse aos consumidores.
No caso do Brasil, o câmbio tem grande importância nessa composição da inflação porque a indústria nacional depende de insumos importados para produção. Além disso, um cenário de real desvalorizado também resulta em aumento de custos.
3ª) Expectativas
Por fim, um último — e importante! — aspecto a ser levado em conta são as expectativas dos agentes que participam da economia.
Explicando em miúdos: quando passamos a incorporar nos contratos e nos preços de venda a taxa de inflação que esperamos encontrar lá na frente, acabamos por gerar uma inercial.
A origem histórica da inflação
Após um breve resumo sobre os tipos de inflação, é importante fazer uma análise sobre sua origem histórica. Segundo o livro “Crash — Uma Breve História da Economia”, a inflação remete ao ano de 264 a.C., quando teve início uma das mais ilustres guerras da Idade Antiga, as Guerras Púnicas (Roma x Cartago).
Como os cartagineses iniciaram uma invasão no território romano com 50 mil homens, Roma precisava mobilizar força equivalente. Para isso, tinha que pagar milhares de soldados para segurar a ofensiva inimiga, além de fabricar armas e transportar comida.
O Império Romano não tinha condição de suportar tamanho investimento naquele momento. Então, a solução encontrada pelos romanos foi simples: aumentar a produção de moeda — o “ás” — para custear o que fosse necessário durante o combate.
A estratégia se mostrou efetiva e foi fundamental para a vitória romana. Mas, ao mesmo tempo, foi a responsável por desvalorizar o “ás” em 80%. Hipoteticamente falando, se um quilo de trigo custava 10 ases antes da guerra, ele passou a custar 50 ases depois.
Mas, por que falar disso agora?
Recentemente voltamos a nos deparar com reportagens sobre o aumento crescente dos preços em nossa economia, resultado de uma inflação cujas expectativas do mercado estava em alta.
Agora, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial, fechou 2021 em 10,42%. Essa é a maior taxa para um ano desde 2015 (10,71%). Em 2020, o IPCA-15 havia ficado em 4,23%.
Dessa forma, o conteúdo produzido sobre inflação servirá para conhecermos mais sobre esse conceito e aprendermos a como nos proteger, além de ter uma ideia do que vem pela frente.
A série irá abordar ainda a conjuntura atual da inflação, bem como os principais índices que a medem e suas diferenças. Tudo para ajudar a não voltarmos a fazer uso da despensa de cozinha — ao menos não como era no final da década de 80!
Gabriel Villalba Nunes