Já parou para pensar no por que nós trabalhamos? A princípio essa pergunta pode parecer um tanto óbvia. Porque precisamos cuidar do nosso sustento, muitos diriam. Outros poderiam extrapolar e dizer é por afinidade com a empresa, com os valores que ela compartilha, ou porque o clima interno é bom.
Para analisar essa relação, conversamos com o renomado psicólogo e educador americano, Barry Schwartz. Autor do livro “Why we work”, ele faz afirmações que mostram que a resposta para a nossa questão inicial vai além da recompensa financeira e aborda a natureza humana para responder a esta pergunta.
“Não trabalharíamos se não nos pagassem, mas não é por isso que fazemos o que fazemos. E, no geral, acho que cremos que recompensas materiais são razões ruins para fazermos o trabalho que fazemos. Por quê, então? E aqui está a resposta: tecnologia das ideias. Além de criar coisas, a ciência cria ideias e meios de entendimento que têm uma influência enorme em como pensamos, o que almejamos ser, e como agimos. É da natureza humana ter uma natureza humana, a qual é praticamente o produto da sociedade em que as pessoas vivem. E ela é muito mais criada do que é descoberta. Nós moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais pessoas vivem e trabalham”, explica.
Confira a seguir a entrevista de Barry, sobre questões sensíveis como satisfação pessoal e profissional, além de salário X motivação.
Qualquer trabalho tem o potencial de oferecer satisfação pessoal ou profissional? Por quê?
Barry: Praticamente todo trabalho envolve atividades que melhoram a vida de consumidores e clientes, mesmo que seja em um âmbito pequeno. O que significa que, se esses trabalhadores têm a capacidade de interferir, mesmo que de forma mínima, para melhorar a vidas das pessoas em geral, esse trabalho já tem um significado e um poder transformador.
Como as empresas podem mudar o paradigma de que precisam pagar um bom salário para conseguir motivação e produtividade?
Barry: Eu gostaria de saber a resposta. Mas enfatizar o propósito do trabalho e da empresa pode ajudar a aumentar a motivação. De acordo com o que pude observar durante minha carreira, quando o trabalho tem um propósito para o colaborador, o desempenho dele aumenta, e não diminui. Portanto, está ai uma grande oportunidade a ser explorada pelas empresas.
Como equilibrar os efeitos extrínsecos, como dinheiro e promoção, a fatores intrínsecos como reconhecimento ou sentimento positivo? Nessa linha, dinheiro pode desmotivar os profissionais?
Barry: O truque é minimizar o uso do dinheiro como incentivo, para que ele não envenene todo o resto e perca sentido. É fundamental que a empresa seja capaz de equilibrar os fatores intrínsecos e extrínsecos para que os benefícios sejam para os dois lados, deixando empregador e empregado satisfeitos. Senão, o dinheiro pode se tornar um prêmio de consolação para o trabalho que não é gratificante.
Como a gestão de propósito faz diferença para que os trabalhadores encontrem significado no trabalho?
Barry: A empresa precisa se certificar de que aquilo que ela faz tem um propósito e modifica a vida das pessoas, pois, se isso estiver em seu DNA, com certeza vai ser refletido no dia a dia profissional de cada colaborador. Além disso, é preciso enfatizar essa essência de forma verdadeira e transparente sempre que possível.
Para o colaborador, é preciso fugir de certas analogias, como a de que encontrar “significado” no trabalho é o mesmo que ter controle sobre ele, ser produtivo e estar satisfeito; controle é importante, mas você pode ter controle sobre o seu trabalho, mesmo quando o trabalho não tem praticamente significado.
E ai, essas reflexões te ajudaram a entender se a sua empresa está em linha com o mercado e as suas expectativas? Para saber mais leia também nosso post sobre gestão de propósito.
Carreira Muller | Construindo Sentidos