Você trabalha em um lugar que não gosta, sob uma missão que não te oferece engajamento, com pessoas que não partilham dos mesmos valores que os seus?
Suponhamos que este seja o seu caso. Mas, você tem entregas relevantes. É comprometido com o acordo que assumiu, independentemente do ecossistema que te cerca. Acho que seu combustível não vai durar muito, mas, enfim… Uma hora você vai pedir para sair e quando isso acontecer, talvez alguém chegue em você (afinal, você tem entregas) e ofereça um bônus de retenção (um caminhãozinho de dinheiro). Você aceitaria o dinheiro em troca da liberdade?
Se você aceitar, posso apostar que terá assinado um atestado de sofrimento, a menos que o propósito de sua vida seja dinheiro a qualquer custo. Nesse caso a conta não chegará agora. Talvez demore um pouco mais.
O bônus de retenção é mais ou menos assim: suponhamos que um casal viva junto, mas não se ama, não se respeita. A única coisa que os une é o grande problema de fazerem a divisão da fortuna e os filhos. Os advogados vão tomar muito dinheiro, as crianças vão sofrer… Decidem, então, jogar a situação como casal “embaixo do tapete”, apostando que vão comprar a alegria de todos os envolvidos com as posses, que foi uma das condicionais na escolha pelo não.
Essa foi uma analogia com um tema bem delicado, mas eu quero realmente mostrar a força de se “prender” a alguém por dinheiro, terceirização de afetos, e não por uma missão realmente digna. Acho que isso não dá certo em lugar nenhum deste mundo, concorda? Acontece, mas o resultado não é satisfatório.
Então, por que é que você paga para alguém ficar na sua empresa, condicionando-o a um contrato de “prisão” por tempo determinado? Não dá na mesma?
Talvez a desculpa seja a impossibilidade de perdê-los, os projetos que não podem ser interrompidos, isso, aquilo, aquilo outro… Pensa na desculpa que quiser, inclusive na que a analogia não se encaixa com esse caso.
Eu fico com a mesma pergunta: vale a pena mesmo?
Tem gente que trabalha pelo dinheiro. Somente pelo dinheiro. Já cruzei com muitos na caminhada profissional. Talvez esse modelo seja eficiente nessa população. Mas, o quão eficiente realmente é essa população? É essa pergunta que realmente me interessa fazer. É nela que prefiro investir meu tempo procurando uma resposta.
“A cada dia os homens vendem pequenas parcelas de si mesmos para tentar comprá-las de novo cada noite e final de semana com a moeda do “divertimento”. Com as diversões, com o amor, com os filmes, com a intimidade vivida por interposta pessoa, eles reconstituem a integridade de seu eu, e transformam-se em pessoas diferentes”. A Nova Classe Média – Wright Mills – p.255.
Você já reparou que não existe um bônus de engajamento? Deveria, não? Lógico que não!
Se alguém escolhe ficar contigo e ser produtivo, e ser comprometido, e vestir a camisa, e passar a crise ganhando 25, 50, 75% menos, e ainda assim entregar resultados acima da média, tem algo aí que é maior que o dinheiro e é nesse indicador que eu quero ficar de olho.
Desejo que ninguém trabalhe comigo, porque não há uma possibilidade de escolher sair. Isso não leva ninguém ao nível da pessoa do parágrafo acima. Se você é um judeu, um cristão, somente um apreciador da literatura, não aprecia nada mas conhece a história – seja lá qual for sua posição – creio que haverá de entender o que digo, pois nem no melhor jardim que o homem imaginou, na companhia do Criador daquele lugar, havia bônus de retenção.
Pelo contrário, havia, sim, uma árvore que daria a condição de abandonar o viridário. Uma porta de saída que, aliás, tinha uma compensação infinitamente inferior ao proposto para os que permanecessem por lá, seguindo os propósitos e regras do local. O “chefe” daquele lugar não queria ninguém “preso” a ele. Era mais um ‘fique, se quiser’ e aproveite para deleitar o preço da sua Liberdade. O “chefe” abriu a possibilidade, tendo já se posicionado na escolha Dele, antes mesmo de ouvir a minha. Eu escolhi te amar, mas poderia ter optado pelo contrário.
Liberdade, liberdade. Sou mais você.
Quanto você quer para não ir embora? Tem coragem de continuar usando essa pergunta?
Texto, originalmente, publicado no Linkedin do Emerson. Clique aqui e siga-o para mais conteúdos interessantes.
Emerson Costa
Gerente de Negócios