Hoje em dia, muito se discute sobre a necessidade de formação acadêmica para diversos cargos e níveis do mundo corporativo. E, nesse cenário, uma pergunta ganha destaque: analistas precisam de diploma?
A discussão é relevante e vai muito além de simples formalidades. A Coordenadora de Remuneração da Carreira Muller, Daniela Brancaglion, nos ajuda a explicar as causas desse movimento, seus impactos e os desdobramentos para o RH, que precisa olhar para novas exigências e estratégias.
Formação versus experiência: o que vale mais?
Segundo Daniela, a resposta não é tão simples. A complexidade do cenário atual, marcada pela escassez de mão de obra qualificada e pelo rápido avanço da tecnologia, de fato tem levado os RHs a reavaliarem as exigências de formação acadêmica para analistas.
Especialmente em áreas como tecnologia da informação e marketing digital, é comum encontrar profissionais altamente capacitados que não possuem uma formação superior formal, mas que dominam as ferramentas e os conhecimentos necessários para desempenhar suas funções.
“A escassez de mão de obra qualificada e o avanço de áreas recentes tornam questionável exigir um diploma em alguns casos. Temos percebido uma grande abertura do mercado para profissionais que comprovam conhecimento prático, mesmo sem formação superior”, explica Daniela. Mas esse não é um movimento que só acontece agora.
A escassez de talentos e seus reflexos
A falta de profissionais capacitados não é uma novidade. Em setores como manutenção e ferramentaria, em que a experiência acumulada ao longo de anos é o diferencial, a formação superior é frequentemente substituída pelo conhecimento prático.
“Temos situações com pessoas há 20, 30, 40 anos na profissão que, mesmo sem uma educação formal, dominam completamente suas áreas. Nesse contexto, é justo questionar a exigência de um diploma? Esses profissionais demonstram que o conhecimento prático acumulado ao longo dos anos pode suprir perfeitamente a falta de formação acadêmica”, pontua Daniela.
Esses exemplos mostram que, apesar do foco atual em áreas tecnológicas e profissões emergentes, esse cenário já é recorrente há muitos anos em setores mais tradicionais. Por isso, é fundamental que os RHs repensem essas exigências e adotem uma visão mais flexível para reconhecer o valor da experiência prática e da expertise acumulada ao longo do tempo.
E quais são os riscos?
Uma das preocupações ao contratar profissionais sem formação é o risco jurídico. Para mitigar esses desafios, Daniela destaca a importância de documentar habilidades e conhecimentos dos colaboradores. “Precisamos registrar que o profissional tem as competências necessárias para o cargo. Esse tipo de documentação serve como uma segurança para as empresas e valoriza o conhecimento adquirido na prática”, explica.
Ela também ressalta que algumas soluções passam por ajustes na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), que não acompanha a dinâmica do mercado. Contratar como estagiário é uma alternativa para quem está cursando graduação e ainda não possui diploma.
Quando isso não é possível, a contratação como analista pode ser uma alternativa. No cargo de Analista Júnior, por exemplo, já é comum permitir que o profissional esteja cursando o ensino superior, sem exigir a formação completa imediatamente. Essa prática é recorrente há anos. Contudo, para avançar para níveis como Pleno ou Sênior, é necessário que o colaborador conclua sua graduação.
Mas vale lembrar que, embora a educação superior não seja o único caminho, ela ainda é um diferencial.
Profissionais que aprendem de forma autônoma e buscam se aprimorar sozinhos possuem uma habilidade rara. “Esses profissionais se destacam por serem autodidatas e aproveitarem oportunidades de aprendizado, como cursos online. No entanto, devemos sempre encorajá-los a concluir sua educação formal”, diz Daniela.
O que o futuro reserva?
A discussão sobre a relevância do diploma no mundo corporativo está longe de terminar. Ela reflete as mudanças nas dinâmicas de trabalho, no perfil dos profissionais e nas necessidades das organizações. RHs que enxergam essas transformações e ajustam suas estratégias sairão na frente, atraindo talentos com base no que realmente importa: conhecimento, experiência e competência.
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