No segundo semestre, especialmente nos meses de setembro e outubro, é quando acontece o maior número de acordos coletivos e convenções de trabalho. É um período árduo para os administradores de recursos humanos, diretores e gerentes que assumem as negociações com as categorias e procuram conciliar os interesses dos sindicatos e da empresa. O fato é que o que será decidido agora vai impactar as organizações em todo o ano de 2014. Por isso, é bom ter atenção às concessões e equilibrar bem a balança para não sair no prejuízo.
Fazendo uma análise dos últimos anos, é possível perceber que a percentagem média de reajuste de salário tem ficado um pouco acima da inflação. Em um país geograficamente grande e com centenas de categorias econômicas e profissionais, falar em percentuais médios pode parecer sem sentido. No entanto, é possível realizar um diagnóstico simples para tentar vislumbrar como esses acordos podem impactar a receita das empresas no próximo ano.
Nos últimos três anos, 2010, 2011 e 2012, a média da inflação ficou em 6,2%. Por outro lado, a média dos percentuais de aumento coletivo definidas nos acordos foi de 8% no mesmo período. Em 2010 foi de 8,0%, em 2011 de 8,2% e em 2012 de 7,9%, o que, de modo geral, representou um reajuste de 1,5% acima da inflação. Em 2012, os maiores percentuais de aumento coletivo foram negociados em Curitiba, com média de 8,16%; e São Paulo, tanto na capital quanto no interior, com 7,95% e 7,69%, respectivamente.
Esse cenário, no entanto, não pode ser considerado um indicativo de que, efetivamente, os salários subiram 1,5% acima da inflação, pois existem fatores que contribuem para o crescimento ou não da massa salarial. Um deles é que na última negociação, 55% das empresas limitaram-se ao emprego efetivo do texto do acordo coletivo, aplicando o percentual negociado apenas até os salários de R$ 6,2 mil, em média, destinando aos superiores somente uma parte disso.
Outro fator determinante é que as contratações que acontecem após esse aumento coletivo são realizadas em faixas salariais iniciais, respeitando o piso da categoria, mas sempre utilizando o turnover de pessoal em favor da queda da média salarial interna. Considerando esses fatores e também a média de reajuste dos últimos três anos, a média esperada para 2014 deve ser de aproximadamente 8,03%.
Embora o PIB esteja pequeno, a economia em crescimento lento e a taxa cambial desfavorável, os acordos coletivos desse ano ainda não refletirão essa situação, sofrendo redução. Pelos números já analisados, a parcela de aumento real será mantida e o percentual final será ligeiramente superior ao do ano anterior, motivado pela inflação mais alta. Diante disso, os negociadores terão de ter muita habilidade e informações para garantir um acordo justo para ambas as partes.
Robinson Carreira (Diretor Presidente da Carreira Muller)
Texto originalmente publicado no site www.investimentosenoticias.com.br, dia 31 de outubro de 2013.
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