Com a rápida evolução dos mercados e das tecnologias, as empresas vêm buscando, cada vez mais, por estruturas ágeis e adaptáveis às mudanças organizacionais. Pensando nisso, será que existe uma tendência de aplicação por cargos amplos ou específicos?
Quem nos ajuda a responder essa questão é Camila Minamide, Coordenadora de Remuneração da Carreira Muller. Mas, antes, vamos explicar o que são cargos amplos e o que são cargos específicos, bem como vantagens e desvantagens.
O que são cargos amplos e cargos específicos?
Cargos amplos são aqueles que permitem a multifuncionalidade. Ou seja, os funcionários têm flexibilidade para atuar em várias funções. Como exemplo, podemos citar um analista financeiro (o chamado cargo amplo) que agrupa funções de outros cargos: pode lidar com contas a pagar, contas a receber, tesouraria e cobrança.
Como se vê na imagem, ao invés de a empresa ter cargos específicos, como analista de tesouraria e analista de cobrança, o analista financeiro pode atuar em qualquer uma dessas funções.
E esse cargo amplo pode ser aplicado em qualquer área ou nível da estrutura organizacional. Vamos citar outro exemplo, desta vez aplicado na produção. O operador de usinagem é um cargo amplo que pode atuar em outros cargos específicos como operador de torno, de retífica e de máquina de corte.
E qual é melhor: cargos amplos ou cargos específicos?
Não há melhor ou pior. Tudo vai depender da necessidade e da estratégia da empresa, do contexto do cargo e também da cultura organizacional. Para cada um deles, há vantagens e desvantagens.
“Mas, vale observar que os cargos amplos só fazem sentido quando agrupam funções correlacionadas e com o mesmo ‘peso’ em um cargo”, diz Camila. Nesse caso, há vários ganhos.
- Redução do número de cargos, facilitando a administração de cargos e salários;
- Flexibilidade para movimentações internas: o cargo não fica vinculado a uma tarefa específica e isso é muito relevante, pois atualmente as estruturas são enxutas, não há pessoas “sobrando” e frequentemente um profissional precisa apoiar ou cobrir o outro em suas atividades.
- Maior engajamento dos colaboradores: ao oferecer cargos amplos, os profissionais têm a oportunidade de se desenvolver em uma variedade de funções, o que pode aumentar o interesse e motivação no trabalho — e isso impacta em um ambiente mais dinâmico e colaborativo.
- Desenvolvimento de habilidades: com os cargos amplos, os colaboradores têm a chance de desenvolver uma ampla gama de habilidades, o que pode impactar em profissionais mais capacitados e prontos para oportunidades de crescimento em uma trilha de carreira.
- Redução de custos: a aplicação de cargos amplos pode reduzir custos associados à contratação de múltiplos colaboradores para desempenhar funções específicas, já que um único profissional pode ser treinado para assumir diversas funções.
Então os cargos amplos simplificam a estrutura organizacional?
Sim! E há ainda alguns pontos de atenção a se considerar caso a empresa opte por títulos de cargos específicos, que são mais descritivos e claros em relação às responsabilidades e habilidades necessárias para o cargo. Camila cita três casos:
1º) A nomenclatura específica pode limitar o colaborador a tarefas específicas, dificultando a mobilidade interna. Isso pode restringir a adaptabilidade dos colaboradores a novas situações ou funções, e limitar as oportunidades de crescimento em uma trilha de carreira.
2º) Em algumas empresas, pode haver aumento da vulnerabilidade quanto aos riscos trabalhistas. O gestor pode precisar colocar um colaborador para cobrir o outro por um tempo e não avisar o RH para tomar as providências cabíveis, o que impacta em desvio de função.
3º)Pode gerar ociosidade e aumentar a quantidade de mão de obra necessária.
Como a escolha por cargos amplos ou específicos pode impactar as empresas?
Na imagem abaixo, vemos dois cenários:
O primeiro traz o cargo amplo de um analista financeiro, que agrupa quatro funções (cobrança, contas a pagar, contas a receber e tesouraria) e responde para um coordenador financeiro. No segundo, temos quatro cargos específicos que também respondem para um coordenador financeiro: analista de cobrança, analista de contas a pagar, analista de contas a receber a analista de tesouraria.
Qual dos cinco analistas estaria mais preparado e capacitado para assumir a posição de coordenador financeiro quando a cadeira estiver disponível?
“Com certeza o cargo amplo (analista financeiro) estaria à frente de qualquer um dos outros analistas, que conhecem apenas uma função. Por isso, a decisão de como a empresa deseja operar pode impactar na trilha de carreira e até mesmo em planos de sucessão”, diz Camila.
Tendência atual: cargos amplos ou específicos?
Respondendo à pergunta do título e início do conteúdo, atualmente a tendência é que empresas maiores operem com cargos específicos e empresas menores com cargos amplos, já que precisam da multifuncionalidade (o time é mais enxuto e todo mundo acaba fazendo um pouco de tudo).
Um exemplo clássico é a área de RH. Corporações com diversas unidades têm analista de treinamento e desenvolvimento, analista de remuneração, analista de recrutamento e seleção… ou seja, cargos específicos. Em empresas menores, um único analista de RH atua em todas essas frentes.
Mas, é como diz Camila: “a escolha deve sempre levar em consideração a cultura e as necessidades da empresa, bem como o recrutamento e permanência de talentos, e a clareza organizacional”. Em alguns casos, a combinação entre títulos amplos e específicos pode ser o ideal. O importante é que as nomenclaturas dos cargos sejam consistentes, compreensíveis e estejam alinhadas com os objetivos e valores da organização.
Quer saber mais sobre o assunto? Assista ao 87º episódio do ConsultAqui! E, se precisar de ajuda, já sabe: fale conosco!