O ano de 2021 encerrou com a renda média do trabalhador brasileiro no menor nível dos últimos 9 anos. O valor de R$ 2.449 é o mais baixo da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012.
Para se ter ideia, foram R$ 307 a menos no comparativo com o mesmo período de 2020, quando o rendimento médio real dos trabalhadores estava em R$ 2.756 — considerando a soma de todos os trabalhos. Por outro lado, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) fechou em alta de 10,16%.
Se o INPC é usado como referência para reajustes salariais, a pergunta que fica é: o que aconteceu para a renda média do trabalhador brasileiro ter caído tanto? Há pelo menos 4 movimentos que ajudam a entender esse cenário.
1. Situação econômica
Quando 2021 teve início, o cenário era de otimismo: a economia no primeiro semestre estava aquecida por fatores como a alta demanda por commodities.
Só que o avançar dos meses mostrou que estávamos diante de mais um ano de incertezas e as expectativas passaram a ser revisadas para baixo. A inflação elevada promoveu alta acentuada da taxa de juros, com impactos negativos tanto na expansão do crédito quanto no PIB.
O momento que vivemos hoje no Brasil é de estagflação, ou seja, de inflação alta e estagnação da economia. E o que está pressionando a alta dos preços não é a demanda, mas os custos: energia mais cara, alto do dólar, do petróleo e de outras matérias-primas.
2. Acordos coletivos abaixo da inflação
Segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a maioria dos reajustes salariais de 2021 ficaram abaixo do INPC para o ano. O ano de 2021 fechou com 50,2% dos acordos coletivos negociados com repasses abaixo da inflação — somente em dezembro, o percentual foi de 67,2%.
O reajuste médio nos salários foi de 6,5% (3,66% abaixo do INPC acumulado) e, no piso salarial, de apenas 4,5%. Isso significa que, na maioria dos casos, a inflação não foi aplicada nos salários.
3. Turnover e movimentação das pessoas
Em 2021 houve um crescimento de 80% no índice de turnover real: de 2,14% ao mês em 2020 foi para 3,63% ao mês em 2021. O CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostra que houve um saldo positivo de 2.992.898 empregos, o que significa que houve mais admissões que desligamentos nas empresas.
Só que essa reabertura de vagas veio após a destruição de empregos na fase inicial da pandemia e foi marcada por salários mais baixos. Houve oxigenação da folha de pagamento: substituição de funcionários no teto — ou acima da tabela salarial — por entrantes nas faixas iniciais do cargo.
Até mesmo as contratações e promoções, que usualmente são feitas com os steps iniciais de cada grade, corroboraram com a queda no salário médio.
4. Crise no mercado de trabalho
A taxa de desemprego próxima a margens históricas e índices como a subutilização incidem em uma crise no mercado de trabalho e na renda média do trabalhador brasileiro. Segundo o IBGE, são mais de 13,5 milhões de pessoas desocupadas no Brasil.
Esse número influencia na tomada de decisão das pessoas que estão à procura de emprego. Com a inflação e o desemprego em alta, é comum que profissionais bem qualificados aceitem propostas inferiores no comparativo à sua última remuneração e à prática comum de mercado.
O rendimento médio do brasileiro em queda acentuada desde 2020 é um indicativo de que os salários pagos aos recém-contratados não acompanharam o crescimento da renda que vinha acontecendo até 2019.
Estudo comentado e podcast sobre o assunto
A realidade é que a inflação subiu e a renda média do brasileiro caiu. No último Boletim de Mercado da Carreira Muller divulgamos mais detalhes sobre o assunto.
Ficou com alguma dúvida? Aguarde mais uns dias que na próxima semana traremos um estudo comentado sobre o boletim e um podcast sobre inflação. Esperamos você!