Insatisfação salarial não é novidade, mas continua sendo um desafio: é como uma sombra que ronda silenciosamente os corredores das empresas. Interfere na motivação, mina a produtividade e acelera pedidos de desligamento — um cenário preocupante para quem cuida de gente e de gestão.
Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feita em 2022, 27,8% dos trabalhadores brasileiros estão insatisfeitos no trabalho. O dado mais alarmante: 64,2% aponta a baixa remuneração como a principal causa.
Mas será que o problema está apenas no valor que cai na conta no fim do mês?
Neste artigo, vamos entender quais são os 4 erros que mais alimentam a percepção de injustiça e insatisfação nas organizações. Para essa conversa, contamos com a contribuição de Fernanda Futada, Coordenadora de Marketing da Carreira Muller.
O que fazer com o “burburinho” sobre salários?
Primeiro, é importante aceitar essa verdade incômoda: as pessoas falam sobre salário o tempo todo. E está tudo bem. Fernanda é direta:
“Sabe aquela história de que todo mundo fala sobre o salário, menos o RH? Vamos parar com isso. Precisamos parar de nos iludir e entender que realmente todos irão falar sobre salário e todos irão se comparar também, porque é natural do ser humano. Temos que tirar a remuneração da caixa preta”.
A comparação é inevitável. O que não pode ser inevitável é a falta de preparo das empresas para lidar com ela. E aí solução passa por dois pilares:
- Um bom plano de comunicação sobre remuneração.
- A capacitação dos gestores para liderar conversas delicadas.
Para ajudar, vamos listar 4 erros que alimentam a insatisfação salarial de modo a trazer a reflexão: o que estou fazendo — ou deixando de fazer — que está gerando esse sentimento?
4 pontos que aumentam a sensação de insatisfação salarial
A insatisfação salarial não costuma nascer do nada. Ela cresce, quase sempre, na ausência de informações e de diálogos honestos. Veja os principais erros que potencializam esse desconforto:
1. Falta de clareza nos critérios de remuneração
Quando os colaboradores não sabem como a remuneração é definida, o ambiente se enche de suposições. E suposições geram frustrações.
- Como a senioridade é avaliada?
- Quais competências são valorizadas?
- Existe uma referência de mercado?
A ausência dessas respostas cria um vácuo que se transforma em desconfiança. “É fundamental que o RH esteja preparado para avançar na maturidade sobre o tema. Mesmo que a empresa ainda não consiga abrir todos os detalhes, é preciso se posicionar com transparência dentro do que é possível”, diz Fernanda.
2. Desconhecimento (ou silêncio) sobre as faixas salariais
Algumas empresas evitam divulgar suas faixas salariais — o que é compreensível, dependendo do grau de maturidade da organização. Mas não falar nada sobre isso é um erro ainda maior.
“Tudo bem, a empresa pode não abrir as faixas. Mas ela precisa falar como a progressão de salários ou o crescimento dos colaboradores acontece”, ressalta Fernanda.
E vale reforçar que abrir as faixas NÃO significa expor salários individuais. É sobre mostrar que existe um plano estruturado e coerente. Colaboradores precisam visualizar caminhos reais de crescimento, isso os inspira a buscar evolução com base em objetivos tangíveis.
3. Desconexão entre desempenho e reconhecimento
Outro erro clássico: falar de salário sem conectar com desempenho.
Quando as promoções e aumentos parecem aleatórios ou baseados apenas em tempo de casa, o recado que fica é: “esforço não importa”. Para evitar isso, é essencial:
- Ter avaliações de desempenho regulares;
- Criar PDIs (planos de desenvolvimento individuais);
- Estimular conversas sobre crescimento profissional.
Assim, a empresa mostra que valoriza a jornada e o progresso de cada pessoa.
4. Não comunicar o pacote completo de remuneração
Muitas vezes, a insatisfação salarial vem da falta de visão do todo. O colaborador compara apenas o salário-base com o mercado, ignorando os benefícios e variáveis que compõem a remuneração total.
Vale-alimentação, plano de saúde, bônus, participação nos lucros… tudo isso tem valor real, mas só será reconhecido se for comunicado com clareza. Uma boa prática é apresentar o ‘extrato’ do pacote de pagamentos, detalhando todos os valores e benefícios. Isso muda completamente a percepção.
Quer falar sobre salário? Comece capacitando os gestores
Antes de criar um super plano de comunicação, é preciso investir no essencial: preparar as lideranças para essas conversas.
“O plano é diferente da forma como isso será apresentado, seja uma carta, um vídeo ou um e-book — isso é a cereja do bolo. Mas você precisa ter o bolo primeiro. E o bolo é capacitar pessoas para falar sobre isso, treinar os gestores. Afinal, são eles que estão na ponta, ouvem as dores e sanam as dúvidas também. Os gestores precisam estar preparados para lidar com a insatisfação, porque ela vai existir”, explica Fernanda.
Gestores bem preparados:
- Reduzem ruídos e interpretações equivocadas;
- Conseguem acolher as insatisfações com empatia;
- Se tornam aliados do RH na construção de uma cultura mais justa e transparente.
Salário é conversa, não tabu. Ignorar a insatisfação salarial não faz com que ela desapareça — ao contrário, só a fortalece. Então o caminho passa por informação, transparência e diálogo. Não se trata apenas de quanto se paga, mas de como se comunica, reconhece e constrói uma narrativa coerente de valorização.
E se você quiser se aprofundar ainda mais no assunto, assista ao 114º episódio do ConsultAqui. E, se precisar de ajuda para revisar suas práticas de remuneração e entender o melhor caminho para fazer essa comunicação, é clicar aqui e falar com a gente!