A cada ano que passa o RH ocupa posição mais relevante dentro das empresas — e cercada de desafios! Mas sai ano, entra ano e um dos maiores talvez ainda seja um velho conhecido: atrair e reter bons profissionais. Nesse contexto, imagine o seguinte cenário:
Roberta é gestora do RH de uma empresa do segmento de embalagens. Em um período de alto turnover, encontra um profissional qualificado para um cargo operacional e o contrata com salário líquido de cerca de R$ 4 mil. Wagner passa por treinamentos e capacitações, evolui em sua curva de aprendizado e se torna uma das peças-chave dentro da empresa.
Um dia, Roberta descobre que Wagner não é mais bem-quisto em seu ambiente de trabalho: os demais profissionais que convivem com ele pedem por sua demissão. Não por falta de profissionalismo, por queda na produtividade, por incompatibilidade organizacional, tampouco por falta de competência.
O motivo: Wagner estava devendo dinheiro para os colegas.
O problema pessoal de Wagner em não conseguir quitar as parcelas do carro, do apartamento e do condomínio se transforma, então, em problema da empresa.
É um caso real (à exceção do nome dos personagens e segmento da organização) que envolveu até mesmo o diretor financeiro para reter o profissional e retomar o clima organizacional. O pior cenário possível — de uma dívida se alastrar por todo o setor e envolver demais profissionais — mas não o único que resvala nas lideranças e na área de RH.
O que acontece quando um profissional tem dívida
- Funcionários com dívidas percebem que o custo fixo está muito alto e passam a interpretar que a empresa não paga bem. Tornam-se insatisfeitos e menos produtivos.
- Os pedidos de desligamento ficam muito mais recorrentes para que haja a rescisão do contrato de trabalho.
- Funcionários endividados são mais propensos a trocar de emprego se houver acréscimo salarial — podem ignorar toda sua trajetória dentro da empresa por uma diferença pequena de R$ 50,00 ou R$ 100,00.
São situações mais comuns do que se imagina, citadas por Henrique Soares e Matheus Assy. Eles são fundadores da Pilla, fintech que trabalha em conjunto com a área de recursos humanos das empresas para melhorar a vida financeira dos colaboradores — e já participaram da 54ª edição do Quinto Dia Útil, o podcast da Carreira Muller.
Foram eles que solucionaram o caso do “Wagner”: devolveram o apartamento e o carro, elencaram um compromisso com o diretor financeiro da empresa para quitar a dívida com os demais colaboradores e conseguiram manter o profissional na empresa. Um bom profissional.
O que vai à contramão daquela visão deturpada que apenas pessoas enroladas, improdutivas ou relapsas se endividam. Segundo dados de pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a proporção de brasileiros com dívidas bateu novos recordes no último semestre de 2021.
Os dados mais recentes apontam que 75,6% das famílias brasileiras têm dívidas a vencer, em atraso ou não — é o 12º mês seguido de alta. Isso mostra que as dívidas estão em todas as faixas salariais, entre os bons e excelentes profissionais. E que, para retê-los, muitas vezes é preciso ter um olhar voltado para a saúde financeira desses colaboradores.
É agora que entra a educação financeira. #sqn
Embora esteja acontecendo atualmente um movimento mais democrático de acesso a produtos financeiros, apenas 1,5% dos brasileiros investem na Bolsa de Valores — nos EUA, é mais da metade da população. Isso acontece principalmente por dois fatores: falta de conhecimento e porque não há o que investir.
Os fundadores da Pilla afirmam que 89% dos trabalhadores brasileiros não têm reserva de emergência. Ou seja, eles vivem de salário a salário. Se há gastos extras, recorrem a cartão de crédito, cheque especial ou empréstimos com familiares e colegas de trabalho.
“A verdade é que as empresas têm diversos problemas porque os funcionários têm problemas. E infelizmente os meios tradicionais de resolvê-los não geram mudanças estruturais grandes e nem relevantes”, diz Henrique.
A educação financeira é importante, mas vem depois. E, aqui, vale uma analogia: quando alguém está se afogando, não adianta ensinar a nadar. É preciso primeiro jogar a boia para, depois, perguntar se a pessoa está preparada para as primeiras braçadas ou se prefere que cerque de vez a piscina. Portanto, em um primeiro momento a orientação é que as empresas sejam parceiras de seus colaboradores no chamado “empurrão inicial”. Como?
Intermediando e simplificando informações que parecem complexas, trazendo possibilidades que antes eram inimagináveis. Como o fato de que é possível trocar uma dívida de 16% por uma de 4% de juros ao mês, ajudar a renegociar os débitos ou até mesmo explicar o simples: o primeiro compromisso a ser quitado é aquele que tem juros maiores.
Assim, os profissionais ficam menos endividados a longo prazo, têm reserva de emergência maior e uma rotina de poupar mais para ter um futuro tranquilo para si e sua família.
“Por outro lado, o profissional de Remuneração também ganha quando o colaborador está orientado. Já acompanhamos resultados muito relevantes considerando o uso de ferramentas que permitem acompanhar o percentual de seus colaboradores que têm dívidas em tempo real — bem como valor médio do débito”, conta Matheus.
Assim, o profissional de Remuneração consegue planejar estratégias e ações a fim de reter os bons profissionais. E a empresa ganha com menos problemas, mais entregáveis e mais benefícios.