Será que o “sextou” vai virar “quintou” ou a segunda-feira se transformar no novo domingo?
Parece algo utópico, muito distante ou até mesmo “bom demais para ser verdade”. Mas fato é que a semana de trabalho de quatro dias está cada vez mais ganhando forma e pode se tornar realidade.
Em alguns países, testes já chegaram ao fim e mostram resultados interessantes. Agora, é a vez de o Brasil ter um projeto-piloto. Assim que o experimento 4 Day Week Brazil terminar, as empresas participantes irão decidir se seguem ou não com a redução da jornada.
Nesse conteúdo, vamos falar mais sobre o projeto, as vantagens e desvantagens da semana de 4 dias, impacto para sua empresa e qual é nosso entendimento sobre o assunto.
O que é a Semana de 4 Dias?
A Semana de 4 Dias refere-se a um novo modelo de jornada em que os colaboradores trabalham apenas quatro dias na semana — ao invés de cinco. O arranjo fica a critério de cada organização, a depender das suas particularidades e necessidades.
Em algumas, funciona mais beneficiar todos os colaboradores com folga na sexta-feira; em outras, estender o fim de semana até a segunda-feira. E há organizações que preferem “quebrar a semana” com folga na quarta-feira. Em alguns casos, para continuidade das operações de segunda a sexta-feira, a alternativa para a redução de jornada é uma escala de revezamento entre os profissionais.
Não há regra, desde que a semana de cada colaborador tenha 4 dias. E todas as empresas podem aderir?
Sim.
João Resch, Gerente de Remuneração da Carreira Muller, explica que como a mudança é mais benéfica que o previsto na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), todas as organizações podem colocar a Semana de 4 Dias em prática. No 93º Quinto Dia Útil, inclusive, falamos com o Luciano Braga, que é sócio-fundador da Shoot, uma das primeiras empresas brasileiras a instituir a Semana de 4 Dias.
Clique para assistir o episódio: Semana de 4 dias – feat. Luciano Braga | QDU #93
“Isso nos mostra que o modelo não precisa necessariamente de um experimento para ser instituído nas empresas. No entanto, um estudo global ou nacional ajuda a estabelecer diretrizes e indicadores de acompanhamento. Mensurar resultados é importante para a organização decidir se mantém ou não o projeto ou até mesmo se implementa em outros setores —caso tenha começado em uma área específica”, diz João.
Como funciona a 4 Day Week — e os resultados do Reino Unido
A 4 Day Week Global é uma comunidade global sem fins lucrativos lançada para fornecer uma plataforma para pessoas e empresas interessadas em apoiar a ideia da semana de 4 dias como parte do futuro do trabalho. A iniciativa começou em países como África do Sul, Reino Unido, Nova Zelândia e Portugal.
Recentemente, o Reino Unido divulgou os resultados do seu piloto realizado com 2900 colaboradores de 61 empresas. Confira:
- 39% dos colaboradores se sentiram menos estressados;
- 71% reduziram o burnout;
- 54% achou mais fácil conciliar vida pessoal e profissional;
- Turnover reduziu em 57%;
- Aumento de 1,4% na receita da empresa;
- Crescimento de 35% na receita em comparação com o mesmo período de anos anteriores.
Aqui, no Brasil, a instituição 4 Day Week Global e o Boston College firmaram parceria com a brasileira Reconnect Happiness at Work para o experimento. A previsão de término é abril de 2024. Depois disso, as 20 empresas participantes irão decidir se continuam ou não com a Semana de 4 Dias. Aqui, você pode conferir quais são as organizações.
Com a redução da jornada de trabalho, o salário muda?
Há programas de redução de jornada, como o implementado pelo governo em meio à pandemia da Covid-19 para proteção do emprego, que impacta na redução de salário. Não é o caso do projeto Semana de 4 Dias.
O modelo adotado na Semana de 4 Dias é o 100-80-100™:
100% de pagamento do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade.
A expectativa, portanto, é que os colaboradores consigam entregar a mesma produtividade por estarem mais engajados, motivados e, obviamente, descansados. Há ainda outras vantagens — e algumas desvantagens.
As vantagens da Semana de 4 Dias
Do ponto de vista do trabalhador, a grande vantagem é um maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A pessoa passa a ter mais tempo com a família, os amigos, para praticar atividades físicas, se dedicar a algum hobbie, viajar…
Para se ter ideia, 15% dos colaboradores participantes do projeto-piloto no Reino Unido disseram que nenhum aumento de salário os faria voltar à semana de 5 dias. É um percentual que nos mostra que, no sentido do engajamento e da atração, a Semana de 4 Dias acaba sendo uma grande vantagem competitiva em relação ao mercado.
É um dos benefícios do que chamamos de salário emocional. Quer saber mais sobre o assunto? Clique aqui.
Mas não o único. O experimento no Reino Unido comprovou que há redução de estresse, burnout e também do turnover, além de aumento na receita. Das 2900 empresas participantes, 92% continuarão com a semana de 4 dias. Em tese, é uma relação “ganha-ganha”.
E quais são as desvantagens?
Conforme falamos aqui, há quem acredite que esse modelo de redução de jornada faria crescer a desigualdade de salários e a polarização de mercado, inclusive com diminuição dos benefícios trabalhistas. Mas a principal discussão, por ora, ainda está relacionada à sua aplicabilidade. Em trabalhos mais conceituais, administrativos, teoricamente as pessoas conseguem se organizar para entregar a mesma produtividade – ainda que em menor tempo.
“Em outros, não é possível garantir a produtividade. Por exemplo, quando o trabalho é justamente estar determinado tempo à disposição do cliente ou naqueles em que o funcionário opera uma máquina que produz certa quantidade de peças por minuto”, explica João.
Outra desvantagem está ligada à redundância, ou seja, se for necessário aumentar o quadro de funcionários para ter rotatividade. Sem redução de salário e necessidade de contratações, há aumento no custo da folha de pagamento. Ainda assim, essa é uma compensação que eventualmente pode ser discutida com o governo, no intuito de se obter redução de impostos.
Há legislação que ampare a Semana de 4 Dias?
Ainda não, esse é um projeto experimental. No entanto, se os resultados forem positivos, acabarão sendo amplamente divulgados e podem provocar a discussão de uma redução da jornada em larga escala no Congresso — principalmente se impactar em mais vagas de trabalho e oportunidade de redução do desemprego.
O que a Carreira Muller pensa sobre o assunto
Enquanto não ganha amparo legal, a Semana de 4 Dias é um grande diferencial competitivo para as empresas que conseguem oferecer esse benefício.
Então, se a sua empresa precisa de uma mão de obra muito qualificada e eventualmente não consegue pagar mais para atrair esses profissionais em uma concorrência muito acirrada, a Semana de 4 Dias pode ser a solução. É uma carta na manga!
Agora, conta pra gente: o que você pensa sobre a Semana de 4 Dias? Acha que é apenas uma onda que vai passar ou realmente algo que pode vir para ficar? Coloque aqui nos comentários!