Como o seu apartamento poderia estar organizado de forma diferente? Ou, como a forma com que você cria seu filho ou filha poderia ser diferente? E, como a sua escolha por viajar para aquele destino poderia ser diferente? Ou ainda, como a relação com seus pais poderia ser diferente? São esses os tipos de provocação que faz o livro “E se fosse Diferente”, escrito por Luciano Braga e Gabriel Gomes.
E é bem possível que, no que tange à sua vida pessoal ou profissional, você tenha se feito esse tipo de questionamento por uma infinidade de vezes. Afinal, tem muito a ver com a inconstância natural do ser humano. Mas, enquanto profissional de RH e de Remuneração (ou enquanto profissional de qualquer área), será que você suficientemente se pergunta: “e se fosse diferente”?
Luciano Braga, um dos autores do livro publicado em 2019 pela Editora Belas-Artes, esteve na 93ª edição do Quinto Dia Útil (o podcast da Carreira Muller) e contou que essa frase praticamente rege sua vida e seu negócio, a Shoot, um estúdio de criação que nasceu para ser disruptivo. Uma agência de comunicação que não vende produtos — e, sim, causas! — e que procura se esquivar, sempre que possível, de sistemas pré-estabelecidos.
Lá, os colaboradores têm espaço aberto para sugestões, tanto que uma das mais recentes mobilizou o que intitularam de Folga TPM. Como o próprio nome sugere, é um período de folga para as mulheres que estão sensibilizadas com os sintomas típicos da pré-menstruação. Mas esse é apenas um dos projetos inovadores da Shoot.
Entre outros estão a total transparência financeira e a Semana de 4 Dias. Foi este último assunto que motivou a nossa conversa do podcast. Só que, como é de praxe, fomos muito além — e trouxemos um pouco de reflexão para este conteúdo.
Semana de 4 Dias: uma tendência para o “futuro”?
Desde fevereiro, todos os colaboradores da Shoot têm um dia a mais de folga na semana: a equipe de relacionamento emenda a sexta-feira com o fim de semana; a de criação, a segunda-feira. Foi uma das mudanças que vieram após o “e se fosse diferente?”, um questionamento que se justifica no contexto atual – segundo o próprio Luciano.
A semana com cinco dias de trabalho foi instituída em meados dos anos 20 pelo fundador das indústrias Ford e consolidada durante a crise de 1929 como um antídoto para o desemprego. Desde então, por mais que houvesse iniciativas a favor da redução de jornada, esse modelo de organização norte-americano ainda impera na maioria das culturas.
De um lado, há quem diga que a redução da jornada traria mais qualidade de vida aos trabalhadores; do outro, quem acredite que uma mudança faria crescer a desigualdade de salários e a polarização de mercado, inclusive com diminuição dos benefícios trabalhistas. Fato é que já se passou praticamente um século, muitas mudanças vieram — e não estamos falando apenas de modelo de trabalho.
Hoje em dia, com a conectividade da internet, as pessoas consomem informação a todo momento: seja em conversas via WhatsApp, tutoriais no YouTube, séries na Netflix, entretenimento no Instagram ou TikTok… Quando terminam os dois dias de descanso semanais, muitas vezes estão esgotadas mentalmente para o retorno ao trabalho — o que não ocorria há 100 anos.
Se o contexto mudou, por que não repensar modelos anteriormente estabelecidos?
Um convite para a criatividade e a pensar “diferente”
A Semana de 4 Dias já acontece em países como Bélgica, Islândia, Escócia e País de Gales. Faz sentido para a realidade desses países e faz sentido para a Shoot, a empresa gaúcha que ainda vive um período de experimentação. Faz sentido para o seu negócio? Talvez não, mas o que faz sentido é tomar atitudes hoje para o mundo de HOJE. Muitas vezes saindo da mediana.
Nós, da Carreira Muller, desenvolvemos pesquisas para que as empresas acompanhem o mercado (sobre remuneração, benefícios e demais práticas organizacionais), estejam antenadas com relação às novas tendências e políticas, o que é essencial. Mas se há muitos negócios na mediana, seguindo a mesma linha daquilo que vem trazendo resultado e sem medo de arriscar, também há os que estão à margem direita ou esquerda (beirando o desvio padrão). Muitas vezes é ali que está o “fazer diferente”, ter a visão que quase ninguém mais teve.
Para isso é preciso criatividade, tanto é que o título do livro de Luciano Braga tem uma continuação: “E se fosse diferente? Caminhos alternativos para despertar sua criatividade”. Ao contrário do que muitos pensam, a criatividade não é exclusiva de artistas, escritores, comunicadores. É um dom universal que pode ser aprendido, estimulado e treinado por todos.
Por muitas vezes, falta uma centelha para despertá-la. Basta um único questionamento para aflorar sua criatividade: “e se fosse diferente?”.