A ideia de pagar acima da média do mercado não é uma novidade no mundo corporativo. Os princípios econômicos de Alfred Marshall, ainda no século XIX, já criaram uma base teórica para entender por que — e como! — essas práticas poderiam se sustentar no mercado de trabalho. A hipótese é que trariam as seguintes vantagens às empresas:
- Redução de turnover: as organizações gastariam menos com treinamento e ainda evitariam o desafio de precisar substituir funcionários frequentemente;
- Atração de talentos: pagar acima da média do mercado atrairia candidatos mais qualificados;
- Aumento de produtividade: os colaboradores seriam incentivados a produzir mais, já que não encontrariam o mesmo salário em outra empresa.
De fato, uma “política de remuneração acima do mercado” se tornou uma estratégia comum em muitas organizações ao longo do século XX. E, no atual mercado competitivo, vemos muitas empresas dispostas a pagar salários acima dos normalmente praticados pelo mercado. Mas a prática ainda é considerada ousada e levanta muitos questionamentos: funciona na prática? Serve para minha empresa?
João Resch, Gerente Executivo Remuneração da Carreira Muller, nos ajuda a responder essas questões.
Uma política de remuneração acima do mercado funciona na prática?
O livro “The Case for Good Jobs: How Great Companies Bring Dignity, Pay & Meaning to Everyone’s Work”, escrito pela da professora Zeynep Ton, da MIT Business School, traz cases que comprovam a ideia de que pagar acima da média do mercado pode, sim, impactar em redução de turnover, aumento de produtividade, atração de talentos, etc.
“Um dos exemplos é o da rede atacadista Sam’s Club, que costumava pagar próximo do salário mínimo e decidiu fazer uma virada e pagar salários maiores. Com isso, conseguiu ter cerca de 20% de aumento na produtividade”, conta João Resch.
Para a organização, a mudança de estratégia fez sentido — até porque não houve impacto negativo nos resultados. Mas não é sempre que isso acontece. Imagine uma empresa que trabalha com commodity, ou seja, que tem seu diferencial competitivo apenas no preço. Nesse cenário, aplicar a técnica de pagar acima da média do mercado pode prejudicar a competitividade da empresa e trazer resultados ruins.
Então, a opção de uma “política de remuneração acima do mercado” funciona desde que o aumento de produtividade e a economia com turnover sejam maiores que o gasto com salários. “É preciso entender muito bem a estratégia da empresa e seu diferencial perante o mercado para não errar, porque se a organização gastar muito com salários e não conseguir ter um ganho de produtividade, acaba sendo um grande problema”, explica João.
Então, como saber se a sua empresa pode ou deve pagar acima da média do mercado?
Se a empresa quer oferecer o melhor atendimento, por exemplo, ela vai precisar de pessoas acima da média para realizar o serviço. Se ela quer se destacar pela inovação, vai precisar contratar excelentes desenvolvedores de software e/ou designers. Se ela é conhecida por sua cultura corporativa e ambiente de trabalho atraentes, vai precisar sustentar sua reputação.
Tudo isso exige salários mais altos.
Em mercados em que há uma alta demanda por habilidades específicas e uma oferta limitada de profissionais qualificados, as empresas geralmente precisam pagar mais para atrair e reter os talentos. E pagar acima da média do mercado também pode ser uma estratégia de recrutamento: contratar profissionais experientes, com salários maiores, significa economia com treinamento. Por mais que a conta ainda fique mais cara, a empresa ganha tempo por não precisar esperar que o profissional esteja “pronto” para executar 100% das suas responsabilidades desde o primeiro dia.
O segredo, portanto, é entender a estratégia da empresa e como ela quer se diferenciar no mercado.
E vale uma observação importante: não adianta um restaurante pagar mais aos seus garçons, ter um atendimento diferenciado, e o cliente preferir ir a outro lugar por conta do preço do cardápio. “A empresa precisa converter o seu diferencial em resultados. No caso do atendimento, em mais clientes, fidelização, negócios… Só assim faz sentido a empresa pagar acima da média do mercado”, diz João.
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