Scott Cawood é o CEO da WorldatWork, maior associação de Remuneração do mundo, com capilaridade em 92 países — somente neste ano, 26 nações firmaram parceria. Em passagem recente pelo Brasil, ele concedeu uma conversa ao Gerente de Negócios da Carreira Muller, Emerson Costa.
Na 90ª edição do Quinto Dia Útil, podcast da Carreira Muller, Scott traz sua visão para os negócios em geral e, especialmente, para a área de Remuneração. Fala de tendências, do papel do profissional de RH, da inserção da tecnologia e faz previsões para o futuro. Também traz a experiência de quem já morou em vários países, 11 estados dos Estados Unidos, pratica arte marcial e é fã de jardinagem. Confira a entrevista!
1) Carreira Muller – O que podemos dizer que é uma novidade para a área de Remuneração?
Scott Cawood – Um dos desafios que as organizações podem estar enfrentando atualmente é que desenvolveram um programa de Remuneração baseado no fato de que os profissionais trabalhavam dentro das empresas. Quanto era justo pagar por alguém que vinha trabalhar e depois ia para casa? Agora, com o trabalho remoto, todo o pensamento precisou ser atualizado, porque você pode contratar qualquer pessoa, de qualquer País e que trabalhe a qualquer hora. Isso muda fundamentalmente toda a maneira como pagamos. Pode elevar o salário das pessoas, pode diminuir.
Nos EUA, por exemplo, vemos muitas pessoas saindo de lugares como o Vale do Silício e indo para o Texas, Phoenix ou Alabama. O custo de vida é bem menor e elas podem executar seu trabalho normalmente. Para mim isso é interessante, porque nunca gostei muito da mentalidade de trabalhar de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. O ideal é que o trabalho aconteça quando o profissional está no seu melhor. Às vezes, é pela manhã; às vezes, pela noite. Só ele quem sabe. Veremos muitas mudanças na forma como (e quando) pagamos.
Restaurantes no estilo fast food, por exemplo, estão testando as contratações por dia. São maneiras diferentes de pensar em como compensamos e pagamos as pessoas.
Outra coisa é que tendemos — pelo menos nos EUA — a pensar que os funcionários trabalham período integral, meio período ou por consultoria. Nesse último caso, você contrata as habilidades de alguém por uma hora, por um dia… É como um “aluguel de habilidades”. É mais curto, mais direcionado, provavelmente a um preço maior, para trazer mais habilidades para seu negócio.
2) Carreira Muller – Quão importante é a Remuneração em uma empresa e por que os líderes têm que olhar devidamente para essa área fundamental do negócio?
Scott Cawood – Vou trazer uma estatística importante para os executivos prestarem atenção. Há um padrão nas organizações do mundo que 70% da receita anual é gasta com folha de pagamento. É um percentual muito significativo para que não esteja na lista de prioridades de um negócio.
É uma despesa muito grande para não gerar oportunidade de negócio — 1 ou 2%, por exemplo, pode fazer a diferença entre ser lucrativo (ou não) em um ano. Por isso, é muito importante acertar essa conta.
3) Carreira Muller – Qual é o papel do RH hoje nas empresas?
Scott Cawood – É importante que executivos de todos os países e de todas as empresas pensem que o papel do RH é ajudar a empresa a ter o melhor desempenho. É isso o que fazemos e é por isso que estamos lá. Ainda que em nosso histórico esteja o compliance ou questões trabalhistas, não estamos no negócio apenas para dar conformidade ou tentar impor coisas como código de vestimenta.
Se os executivos olharem para o RH como um elemento legal para dar conformidade à empresa ou aplicar políticas corporativas, nunca obterá o verdadeiro valor que pode tirar de toda a equipe. Somos capazes de influenciar todo o negócio e os profissionais envolvidos, e isso resvala no crescimento da organização. O RH vai muito além do pagamento de salário: está muito mais relacionado ao employee experience.
4) Carreira Muller – E como as empresas têm que olhar para o employee experience?
Scott Cawood – O employee experience é o caminho para quem quer obter as melhores oportunidades para expansão dos negócios. O RH provavelmente é quem tem o maior potencial para impactar o sucesso de uma organização, porque estamos lidando com pessoas que precisam de coisas, querem ser ouvidas e incorporadas nas decisões. E querem ser pagas de forma justa pelo trabalho que estão fazendo.
5) Carreira Muller – Qual é o futuro da remuneração?
Scott Cawood – Tudo em compensação se moverá em direção à flexibilidade e fluidez para atender o dinamismo que vemos atualmente. Para obter o melhor trabalho das pessoas, teremos que abrir mão do comando e controle sobre elas, que é o pensamento de muitos gerentes ainda nos EUA e certamente no Brasil também. Por exemplo, desmistificar que produtividade está relacionada ao trabalhar de segunda a sexta-feira, das 8h até alguma hora. O trabalho nem sempre precisa ser dividido em horas.
O que importa é realmente o resultado e como esses profissionais podem contribuir com o negócio. Isso muda fundamentalmente para onde os programas de Remuneração estão indo. Minha previsão é que eles serão cada vez mais dinâmicos.
Muitos dos processos terão que ser revistos com frequência, diariamente, para acompanhar as mudanças de mercado — e com apoio da tecnologia. Outra mudança que podemos esperar é mais transparência na Remuneração: os salários pagos ao CEO e ao último profissional contratado serão divulgados, bem como os requisitos para promover um profissional, quem recebe mais regalias e até quem fica com a vaga do estacionamento.
Se você convida alguém para sua casa, ela deve estar limpa e agradável. Vale o mesmo na área da compensação. Na sua empresa, você também tem que ser transparente e ter bons programas. Todo mundo gosta de ser bem tratado, todos querem saber se sua contribuição para a organização foi bem recebida. As pessoas gostam de equidade, de saber se foram valorizadas e se é justo. Transparência é uma ótima maneira de compensação.
É melhor ter um sistema justo que você vai abrir para o mundo que ter que abri-lo para a Justiça por causa de uma questão salarial.
6) Carreira Muller – Como a tecnologia está impactando a Remuneração?
Scott Cawood – Quanto mais dados, melhor, porque sempre queremos ver as coisas sob diferentes perspectivas. O bom dos profissionais de Remuneração é que eles são muito talentosos com relação aos números, como eles devem se encaixar e se somar. O analytics na área de RH possibilita outra visão. A compensação não deve ser baseada na intuição e me preocupa saber que algumas organizações ainda fazem isso — e acham que vai funcionar. É muito perigoso do ponto de vista da equidade. Por isso, algoritmos e analytics são bem-vindos.
Esses são apenas alguns dos pontos dessa conversa com Scott Cawood que ainda trouxe outras visões sobre o mundo das compensações. Assista ao episódio completo aqui!