Falar de justiça, quando o assunto é remuneração, pode causar calafrios! Nós já falamos, aqui no blog, sobre o tabu da igualdade de salários e as polêmicas envolvendo transparência salarial. Mas dessa vez, vamos dar alguns passos atrás e abordar conceitos básicos que nos ajudam a reconhecer quando a remuneração é, de fato, justa.
Três são os pilares fundamentais que vão nortear nosso raciocínio, a sustentabilidade, o equilíbrio interno e o externo.
Sustentabilidade
É comum nós falarmos que salário é manutenção. Mas o que isso significa?
Os pagamentos mensais subsidiam os gastos dos colaboradores com os investimentos pessoais, ou seja, o custo de vida. Por outro lado, a empresa também se beneficia da dedicação do profissional, durante aquele período. Tudo isso parece meio óbvio, mas entender que salário é um elemento básico, permite que o RH pense, estrategicamente, nos próximos níveis da remuneração, mirando variáveis, benefícios etc. É a partir do salário que garantimos o desenvolvimento sustentável do negócio.
A sustentabilidade desperta o sentimento de engajamento, ou seja, o convencimento de que vale a pena continuar trabalhando e crescendo na companhia – ao mesmo passo que a empresa concorda que vale a pena continuar investindo e incentivando.
Equilíbrio interno
É praticamente impossível falar desse pilar sem mencionar as políticas de remuneração, que consistem, basicamente, no sistema de pagamentos adotado pela empresa, a fim de recompensar e reconhecer os colaboradores de acordo com os cargos e o desempenho neles.
As diferentes formas de remuneração se complementam e, quando aplicadas de forma correta, impactam diretamente na motivação do time.
Mais do que isso, o equilíbrio interno também está conectado com a organização dos cargos e a construção da trilha de carreira da companhia. Nós explicamos melhor esses conceitos neste texto aqui.
O sentimento de imparcialidade é despertado nessa etapa. Em outras palavras, o colaborador percebe que não há favoritismos e que tudo acontece e progride de forma ordenada, compreendendo que o sistema é claro.
Equilíbrio externo
Pesquisas salariais: é o elemento-chave desse terceiro pilar.
Todo o equilíbrio interno e a sustentabilidade das políticas de remuneração só poderão ser verdadeiramente justos quando a empresa, não somente conhece as tendências e práticas salariais, mas também monta sua estrutura de forma consciente.
Quando falamos em pesquisas salariais, vale reforçar que conhecer o mercado não significa, necessariamente, segui-lo. Falamos mais sobre isso aqui.
O equilíbrio externo alimenta o sentimento de competitividade. A equipe se sente parte do time, colaborando para que a empresa “se mantenha no jogo”, ganhando força no mercado de forma responsável. Na verdade, para o profissional, isso significa estar numa empresa que reconhece e valoriza seu trabalho de forma correta e atualizada. Para a empresa, o equilíbrio externo garante a saúde financeira da companhia e afina sua bússola estratégica.
Na prática
Imagine que sua empresa pague um salário de oito mil reais a um profissional que, segundo o mercado, deveria receber apenas metade desse valor. Será que isso é justo?
Do ponto de vista de quem recebe o salário, é sempre justo! Mas do ponto de vista de quem paga, considerando os pilares citados no texto, nem sempre é.
Vamos refletir um pouco sobre esse cenário.
Pensando em sustentabilidade, se um dia esse profissional for desligado da organização, ele não vai conseguir se reposicionar no mercado com esse mesmo salário. É preciso agir com maturidade e responsabilidade também quanto à vida de outra pessoa. Sem mencionar, é claro, o peso que as folhas oneradas causam à saúde financeira da empresa.
Olhando sob a perspectiva do equilíbrio interno, como justificar o supersalário para outros colegas da equipe? Isso seria abrir margem para discussões sobre equiparação salarial. Tenha em mente também que cargos desalinhados com as práticas de mercado, impactam o equilíbrio externo da companhia.
No desfecho de tudo, se considerar que esse profissional é muito talentoso, vale mais refletir sobre a forma de pagamento. Ou seja, ao invés de trabalhar com um salário base tão alto, por que não trabalhar com bônus mais agressivos? Pensando no time como um todo, será que outros colaboradores também não poderiam entregar tanto quanto ele, se recebessem também um variável mais significativo?
Muitas são as possibilidades para tratar e aplicar a remuneração de forma justa dentro da empresa.