A faixa preta é a graduação mais alta de praticamente todas as artes marciais: karatê, judô, jiu-jitsu, taekwondo, kung fu, kickboxing… Só chega nesse nível quem treinou muito, dominou o básico e passou por todo o processo de aprendizagem até assumir uma postura de protagonismo.
Há quem diga que o faixa preta é conhecedor de todos os golpes e defesas da modalidade. Não é mentira — e talvez por isso a expressão tenha se disseminado para além das artes marciais a fim de definir alguém com grande habilidade em sua área de atuação.
Mas o que se espera de um verdadeiro faixa preta vai muito além da execução da técnica. É alguém eternamente aberto a aprender, que se permite viver os desafios e busca vitórias em todo o processo. Nesse sentido, todo mundo pode ter a mentalidade de um faixa preta.
Inclusive você, profissional de Remuneração. São as pequenas mudanças na rotina que, juntas, impactam em grandes transformações.
Estados de espírito: da filosofia samurai para o trabalho
A 78ª edição do Quinto Dia Útil, o podcast da Carreira Muller, inaugura a temporada de 2022 com Vinicio Antony, um dos atletas mais condecorados de sua geração e que formou diversos campeões— entre eles Lyoto Machida e Vitor Belfort.
Em nosso bate-papo, ele traz algumas técnicas e a filosofia das artes marciais para o contexto da vida cotidiana — a exemplo do que faz em sua obra mais recente, “Black Belt Mind: os segredos da mente faixa preta”. Uma dessas filosofias está ligada ao antigo samurai, cujo código era pautado por princípios. Ele trabalha a mente em três estados de espírito.
Mushin
É ter a mente clara/vazia sem a interrupção do ruído: sem julgamentos, medos, ansiedade, desejo ou raiva. É um estado de presença, mas de interação com o interlocutor, com você mesmo e com meio em que está inserido. O mushin é a forma que o samurai procurava para amplificar sua percepção de mundo e das pessoas, para aumentar sua empatia e melhor compreensão das situações.
Cá entre nós, veja se você não precisa disso para tornar seus projetos um sucesso. Se você reparar no SCRUM, o grande objetivo é conseguir fazer isso o tempo todo para ir validando seu product backlog.
Zanshin
É estar de prontidão constante, é vestir uma armadura e se blindar por meio do conhecimento e de tudo o que agrega valor. É ter a mente sempre aberta e disposta a aprender, ter a consciência de que sempre há algo a ser aprendido.
Nem precisamos falar nada: se você acha que já sabe tudo (em qualquer área da sua vida), pode ter certeza que já foi derrotado.
Fudoshin
É quando a mente atendeu todos os desafios e alcançou a serenidade. O fudoshin é o equilíbrio das emoções, a estabilidade física e mental. Se você está presente e tem plena consciência da sua capacidade, não há o que possa lhe desestabilizar e tirar você do centro.
Quando você se prepara, treina muito e tem um alvo definido, não é qualquer “porcaria” que vai lhe tirar do eixo. Você sabe o que quer e o que tem de fazer. Isso é serenidade para saber dizer todos os “nãos” que serão necessários para apenas um “sim”.
Os tipos de mentalidade do samurai são aplicáveis em qualquer área e em qualquer profissão: é definir suas escolhas, estar presente, ter ânsia de conhecimento e vencer os desafios para alcançar a serenidade.
Ainda que não seja tarefa fácil definir — e entender — o propósito da sua vida e das suas ações, há algumas estratégias que contribuem para essa jornada. Uma delas é se perguntar: “isso tem valor existencial para mim? De fato estou contribuindo para os meus semelhantes e o mundo que me cerca?”.
Mesmo que a resposta imediata seja “não”, pode ser que esteja em um degrau para obter o conhecimento e o valor necessários do que se espera a longo prazo (ou se está enriquecendo a ponto de encontrar esse valor existencial no futuro).
O propósito está nessas respostas, mas não acaba nelas. Isso porque há dois tipos de atletas: aquele que é campeão e aquele que se mantém campeão, ou seja, que não coloca limites para si em termos de crescimento.
Entre dois cenários possíveis, qual você escolhe?
O atleta que se mantém campeão é aquele que entende que as derrotas fazem parte do crescimento e que o único fracasso que existe é a desistência. O processo é contínuo, não há limite para o desenvolvimento, o que nos coloca na posição de eternos aprendizes.
Mais que isso: na condição de que é preciso amar o processo e ressignificá-lo com “pequenas vitórias diárias”. Vamos exemplificar com duas situações:
1ª) O despertador toca, você coloca em modo soneca e aproveita para dormir mais um pouco. Quando acorda, sem o tempo disponível que previa, deixa de tomar um banho e se arruma da maneira mais rápida que pode. Pega o alimento mais prático apenas para não ficar em jejum e corre para o trabalho. Chega atrasado.
2ª) O despertador toca e você, sem titubear, se levanta. Toma um banho, se arruma com a atenção necessária, alimenta-se com qualidade. Chega para o trabalho com minutos de antecedência e disposição para começar o dia.
Qual combina mais com seu perfil atual?
Vinicio Antony explica que cada tomada de decisão gera uma reação bioquímica no cérebro. Como são milhões ao longo do dia, o órgão estabelece sub-rotinas que identificam padrões para que algumas dessas decisões se tornem automáticas.
Se o cérebro está programado para “derrotas” (a primeira situação), você se autossabota o tempo todo. Para mudar esse cenário, é preciso conhecer o processo e editar as informações gravadas no inconsciente. Ou seja, é preciso assumir que você tem controle sobre si próprio e criar “pequenas vitórias diárias”. Vitórias simples de alcançar: como desligar o despertador no primeiro toque.
O mestre em artes marciais traça 12 passos para uma manhã gloriosa e para ressignificar o processo. Alguns deles estão na 78ª edição do Quinto Dia Útil. Vale muito a pena conferir para mudar essa chave na sua vida e trilhar um caminho rumo à faixa preta na Remuneração — e em sua vida!
Respostas de 2
Muito, muito, muito bacana o artigo, gratidão!
Obrigado, Ryath! Que bom que gostou!