Programas de estágio são oportunidades para os jovens adquirirem experiência no mercado de trabalho ainda durante a graduação e também para as empresas moldarem profissionais alinhados com seus valores organizacionais.
No entanto, temos percebido algumas mudanças no mercado que vão de encontro a essas premissas: o programa de estágio está se popularizando e se transformando em mão de obra barata e temporária para as empresas.
O que isso significa? E como romper esse “novo” padrão e ter um programa de estágio atrativo e estratégico?
Programa de estágio: como o mercado vem se comportando
Podemos observar que atualmente muitas organizações têm trabalhado com o estagiário em posição de assistente ou auxiliar, sem se preocupar com seu crescimento e aprendizado. Isso pode levar a impactos negativos como desmotivação do estagiário e perda de credibilidade do programa de estágio da organização.
Além disso, perde-se o potencial de ganho: se as empresas conseguissem trabalhar o estagiário com estratégia, usando o tempo dele na companhia para formá-lo dentro dos valores e cultura da organização, poderia ter um programa com grande diferencial de mercado.
Esse cenário atual pode – e deve! – mudar. Foi-se o tempo (se é que esse tempo algum dia existiu) em que o RH era mais operacional. Agora, a área consegue trazer uma visão estratégica para praticamente todo o negócio. Então recomendamos você a fazer exatamente isso: olhar para o programa de estágio com estratégia, passando a tratar esse profissional como uma mão de obra formada – e não somente como uma mão de obra barata e temporária.
Quando acaba o contrato do estagiário, para que posição ele vai?
“Atualmente o estagiário está indo para a rua, sendo devolvido ao mercado. A maior parte das empresas não está efetivando o profissional”, diz Felipe Cruz, Coordenador de Remuneração da Carreira Muller, que nos auxiliou nesse conteúdo.
Não estamos dizendo que essa é uma opção sem critério ou justificativa por parte das organizações. O headcount definido pela matriz ou uma possível limitação de custo de mão de obra são exemplos de fatores que levam a não efetivação do estagiário. Por mais competente que ele seja, a empresa não consegue retê-lo – a não ser que uma pessoa deixe a companhia nesse momento ou haja outra vaga aberta.
O que estamos tentando sugerir para o mercado é a possibilidade de mudar esse cenário. Veja alguns dados que comprovam o que estamos dizendo.
No Estudo de Estagiários e Trainees da Carreira Muller, realizado em 2021, perguntamos ao mercado qual o percentual médio de efetivação do estagiário após o término do programa. O resultado mais expressivo é a média de apenas 10% dos estagiários efetivados – um percentual muito baixo de efetivação. No mesmo estudo realizado em 2023, publicado recentemente, os números melhoram um pouco, mas ainda são surpreendentes: 24,62% das empresas apresentam um percentual médio de 10% de efetivação.
Esse é um cenário que se desenha como um grande desafio para as empresas.
Afinal, como moldar o programa de estágio e deixá-lo cativante para quem está em formação se a organização tem um índice de efetivação tão baixo? Há casos, inclusive, de estagiários que entram na empresa sabendo que não serão efetivados, a não ser que uma posição acima deles saia da empresa.Isso cria uma grande desmotivação para os estagiários.
Muitas empresas atualmente nos perguntam: “como diferenciar meu programa de estágio dos demais?”. Ainda que muitas olhem para questões como bolsa-estágio, benefícios e outras que envolvem a remuneração, a resposta tem mais a ver com o formato do programa do que com valores específicos.
Como diferenciar o programa de estágio das demais empresas?
Antes de tudo, é preciso pensar o programa de estágio como, de fato, um programa. Imagine você trabalhar em uma empresa na qual aprende no dia a dia. E não estamos nos referindo a atividades rotineiras básicas, mas sobre formação, aprendendo com profissionais de nível sênior e gestores da área, se desenvolvendo… Mais ainda: com a oportunidade de ser efetivado a depender do seu desempenho.
Concorda que essa é uma vantagem que pode diferenciar o seu programa de estágio do de outras empresas?
Grandes organizações têm maior dificuldade em efetivar estagiários por conta do custo de mão de obra. Isso faz com que as empresas menores consigam se diferenciar ao oferecer a efetivação para profissionais que se destacarem – e não somente quando há o fator sorte de surgir a vaga certa no momento certo.
Para qual posição o estagiário vai quando é efetivado?
Se for bem treinado e desenvolvido, usualmente um estagiário se torna analista júnior após a efetivação.
“Por que não levar para a posição de assistente?” Porque, basicamente, ele continuaria fazendo o que já fazia antes, o que pode ser muito desmotivador.
Ao conduzir esse profissional para o nível de analista júnior, você garante que ele possa desempenhar atividades mais complexas. Ao mesmo tempo, não podemos nos esquecer que fica mais barato para a empresa promover um estagiário para analista júnior que trazer um analista júnior de mercado.
Como promover o programa de estágio nas faculdades?
Sabemos que é difícil competir com uma marca empregadora muito forte. Mas, se as empresas conseguirem vender um programa de estágio que oferece a oportunidade da efetivação e de uma carreira sólida, certamente já se diferencia no mercado.
Também é importante reforçar a premissa do estágio, que é garantir experiência aos jovens e, assim, abrir oportunidades para o mercado de trabalho após a graduação.
Sabemos que, na prática, o cenário é um pouco diferente. “Há estudos que mostram que, a cada 10 formandos, somente 4 conseguem um emprego de imediato. O mercado quer a experiência, o profissional pronto. Ninguém quer investir tempo em treinar”, diz Felipe.
Então, se é um luxo hoje se formar com emprego garantido, as empresas que dão a oportunidade da efetivação saem na frente. Vale lembrar ainda que os profissionais tendem a valorizar mais o primeiro emprego, a primeira porta que se abriu para ele. Isso significa que o talento vai pensar duas vezes em abrir mão da empresa que acreditou nele quando outras não acreditaram.
Conclusão: como montar um programa de estágio
A primeira coisa para ter um diferencial no programa de estágio é tratá-lo, de fato, como um programa em si – e não com o viés de ter mão de obra barata, cargos de passagem. É desenvolver o estagiário assim como o trainee: alguém que você quer que continue na empresa.
Não faz sentido investir em um programa de estágio para, depois, ficar pedindo para o estagiário tirar cópias ou fazer atividades muito operacionais.
E se as empresas conseguirem ainda “vender” a efetivação, certamente terão mais um grande diferencial. Imagina poder dizer que o mercado efetiva a média de até 10% dos estagiários, mas que a sua organização efetiva de 30 a 40%? Muitos vão querer estagiar para sua empresa porque, por menor que ela seja, todo mundo quer sair da faculdade com um emprego garantido e ter uma oportunidade de carreira tão jovem.
É isso o que recomendamos às empresas: tratem o programa de estágio como um programa e não como mão de obra passageira.
Quer saber mais sobre como o mercado está se posicionando com relação aos estagiários – e também sua remuneração? Fale com o time comercial da Carreira Muller!